"Era colonial"
Fui atirado para aqui Angola, para o centro de uma guerra cruel e absurda que não é minha.
Falam em condescendência mas tantos são os agravos á surda justiça dominando com as armas, regando com sangue as bandeiras da discórdia para justificar sem justificação a falta de compreender e aprofundar um povo.
Deploram as condições do homem com os seus estandartes que por capricho degolam-se uns aos outros.
E neste incurável fatalismo fatigado por poeirentos caminhos, esgotado às vezes de medo...recebo a tua carta impregnada por uma saborosa injecção de ingenuidade alheia ao mundo que lança uma sólida ponte entre o passado e o presente.
Foste o meu encanto e apesar de nunca nos termos amado, abraçam-nos as cartas, umas vezes a chorar e outras com verdadeira ternura.
E à noite depois de horríveis infortúnios do dia, leio e raleio demoradamente as tuas cartas, deitado sobre as ervas secas como se fosse um leito de pétalas de rosa. Vou partir, mas deixo o meu coração em África com o sol, a lua e todas as luzes existentes no firmamento.
Se me perguntarem se te amei...
direi que sim, com o corpo e coração...
que foste uma alma só minha.
Tenho de agradecer ao carteiro por te ter encontrado.
Samuel Pena
Foto colhida na Net
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