40 Anos.
Faz hoje, quarenta anos que a minha vida voltava a tona,
depois de 1.162 dias de ter de servir aquele a quem odiava.
Foi no longínquo ano de 1971, no seu segundo mês que
enverguei a farda verde do exército, em Aveiro, tendo passado por Tomar, Elvas,
e sido mobilizado para uma guerra que nada me diz ainda hoje, pelo Regimento de
Infantaria 5 de Abrantes.
Foram muitas, noites a ranger os dentes, alguma sede, fome e
“medalhas”, que esta Lusa Pátria me obrigou, a passar.
A organização desorganizada – leia-se exercito -, no fim,
mesmo nas últimas horas ainda tinha mais uma “prenda” para me oferecer:
mandaram-me para Chaves, fazer o espólio. Mesmo chamados à atenção para o erro
a resposta seca e curta era; cumpra.
Assim, na noite da revolução, mal dormido e vergado ao
cansaço lá ia eu sobre as travessas de madeira, que serviam de assento no
comboio, que ligava a cidade da Régua a Chaves.
Porque o bilhete tinha sido pago pelo exército, o revisor já
de madrugada, alertou-me dizendo-me que havia guerra em Lisboa. Ri-me, e
vieram-me à lembrança umas conversas tidas em Angola meses antes, mas respondi
que não que deveria ser erro. Só quando paramos algures numa estação e ouvi um
comunicado, me apercebi que de facto algo estava a mudar.
A confirmação estava-me reservada na unidade em Chaves.
Sacos de areia, na porta de armas, dupla sentinela de
capacete – achei piada -, e lá dentro correrias. Percebi logo que a “coisa”
tava feita.
Sentindo o “terreno” favorável pensei para com os meus
botões: vai ser lindo vai.
Na secretaria um velho sargento pede-me o nome e data de
incorporação. Ri-me interiormente, ao vê-lo com o livro de assentos de janeiro
de 1971 à procura do meu nome. O pobre como nada encontrava disse-me:
- Será que não estás engado rapaz não assentas-te recruta no
segundo turno?
- Não meu sargento, foi em Janeiro.
Depois de muita folha desdobrada, chegou à conclusão que eu
era um “clandestino” na Unidade, já que na mesma nada constava.
Foi ai, que o chamei à atenção para o meu percurso de vida
militar, que tinha passado por muita unidade, mesmos por a de Chaves.
Bem o homem ficou da cor da camisola dos campeões nacionais
da bola, e rematou dizendo-me que teria de ir para Abrantes.
O tanas, respondi-lhe eu. Quando passar na ponte sobre o
Douro atiro a farda ao rio e depois mandem-me a conta para pagar.
“Negociamos” e lá aceito fazer-me o espólio tendo-me ainda
pago o pré do mês de Maio. Ofereci a uns prontos para cerveja. A minha guerra
terminava, como eu gostava.
Nota final. Não perdoo-o, ao/s homens, entejam lá no inferno
ou quiçá no céu, que emperraram Portugal e os seus melhores filhos para esta
situação.
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