Era uma manhã de Setembro, ligeiramente fresca, mas com um
sol radioso.
Ali estava o navio negreiro dos anos de guerra com as suas
goelas abertas para “engolir” mais umas centenas de almas jovens, que iriam
deixar para trás Mães, Pais, Esposas, filhos e noivas.
Setembro, que para muitos era o mês de colheita do vinho,
esse néctar que hoje seguia nas malas e que iria servir de bálsamo para afogar
dores.
Que culpa tínhamos para sermos embarcados rumo a uma terra
que nada dizia à esmagadora maioria. É certo que nos tinham dito na escola
primária, que fazia parte de Portugal. É certo que poucas horas antes eramos
abençoados para a defender, matando e essa bênção era dada em nome de deus e da
senhora de Fátima, que dizia o capelão era a mãe dos homens. Por certo que
também seria mãe dos que íamos combater…
Era uma manhã de setembro, e ali à nossa frente víamos
lenços brancos, a aflorar dos bolsos. Muitos abraços e lágrimas.
… e lá roncou o negreiro, o agitar de braços e lenços no
para muitos o último adeus.
Rumamos assim com destino a Angola.
Para que a memória não se apague, perdi muitos camaradas,
alguns abracei-os ainda no seu leito de morte empapando a farda de sangue.
Ficaram gravados na rocha da memória o seu olhar de espanto
com que a morte os ceifou.
Para que a memoria, e no corpo ficaram as “medalhas”, porque
de uma guerra ninguém sai sem elas.
43 Anos.
43 Anos, que deixei
um amor, que secou, porque em alguma hora o sentimento de perda afloraram as
nossas almas. Hoje em momentos de “loucura” sinto os seus lábios no último
beijo -perante muitos espantos -, regado de lágrimas.
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