31/10/14


40 Anos.


Faz hoje, quarenta anos que a minha vida voltava a tona, depois de 1.162 dias de ter de servir aquele a quem odiava.
Foi no longínquo ano de 1971, no seu segundo mês que enverguei a farda verde do exército, em Aveiro, tendo passado por Tomar, Elvas, e sido mobilizado para uma guerra que nada me diz ainda hoje, pelo Regimento de Infantaria 5 de Abrantes.
Foram muitas, noites a ranger os dentes, alguma sede, fome e “medalhas”, que esta Lusa Pátria me obrigou, a passar.
A organização desorganizada – leia-se exercito -, no fim, mesmo nas últimas horas ainda tinha mais uma “prenda” para me oferecer: mandaram-me para Chaves, fazer o espólio. Mesmo chamados à atenção para o erro a resposta seca e curta era; cumpra.
Assim, na noite da revolução, mal dormido e vergado ao cansaço lá ia eu sobre as travessas de madeira, que serviam de assento no comboio, que ligava a cidade da Régua a Chaves.
Porque o bilhete tinha sido pago pelo exército, o revisor já de madrugada, alertou-me dizendo-me que havia guerra em Lisboa. Ri-me, e vieram-me à lembrança umas conversas tidas em Angola meses antes, mas respondi que não que deveria ser erro. Só quando paramos algures numa estação e ouvi um comunicado, me apercebi que de facto algo estava a mudar.
A confirmação estava-me reservada na unidade em Chaves.
Sacos de areia, na porta de armas, dupla sentinela de capacete – achei piada -, e lá dentro correrias. Percebi logo que a “coisa” tava feita.
Sentindo o “terreno” favorável pensei para com os meus botões: vai ser lindo vai.
Na secretaria um velho sargento pede-me o nome e data de incorporação. Ri-me interiormente, ao vê-lo com o livro de assentos de janeiro de 1971 à procura do meu nome. O pobre como nada encontrava disse-me:
- Será que não estás engado rapaz não assentas-te recruta no segundo turno?
- Não meu sargento, foi em Janeiro.
Depois de muita folha desdobrada, chegou à conclusão que eu era um “clandestino” na Unidade, já que na mesma nada constava.
Foi ai, que o chamei à atenção para o meu percurso de vida militar, que tinha passado por muita unidade, mesmos por a de Chaves.
Bem o homem ficou da cor da camisola dos campeões nacionais da bola, e rematou dizendo-me que teria de ir para Abrantes.
O tanas, respondi-lhe eu. Quando passar na ponte sobre o Douro atiro a farda ao rio e depois mandem-me a conta para pagar.
“Negociamos” e lá aceito fazer-me o espólio tendo-me ainda pago o pré do mês de Maio. Ofereci a uns prontos para cerveja. A minha guerra terminava, como eu gostava.

Nota final. Não perdoo-o, ao/s homens, entejam lá no inferno ou quiçá no céu, que emperraram Portugal e os seus melhores filhos para esta situação.

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