11/09/13

Chimbila:destino negro



27 de Outubro de 1971, tardinha ali estava Chimbila, uma povoação, entre Henrique de Carvalho e cidade do Luso. Para se lá chegar – felizmente para nós –, fazíamo-lo por estrada alcatroada, o que sempre nos livrava das minas anti-carro.

Situada no leste de Angola, distrito da Lunda, que tinha uma área geográfica de 167 786 Km2. A capital do distrito é Sáurio (nome que os naturais de Angola davam a Henrique de Carvalho. Este distrito era dividido do Moxico pelo rio Cassai, que nasce perto de Monhonga (?) atravessa as zonas de Camanongue (Buçaco), Cassai, Luau (Teixeira de Sousa) inflectindo então para norte e servindo de fronteira com a Republica Democrática do Congo, até ao paralelo 7* 17" çat. S, continuando o seu percurso por terras congolesas até confluir na margem esquerda do rio Zaire. Recebe como principais afluentes o Chicapa, Luachimo, Chiumbe e Luembe. Numa extensão de 400Km.

Toda esta região tinha uma altura média de 1300m. e clima tropical com chuvas no tempo quente (Outubro a Maio), insuficientes para a agricultura.
Os naturais cultivavam principalmente mandioca, massango, massambala, tabaco, milho feijão e amendoim. Caça e pesca fluvial Esta seria para nós a zona de combate.
Tinha, sido antes da guerra eclodir, um lugar de comercio, já que ainda lá se encontravam as casas dos colonos. Como seriam os tempos naquele local? Quanta seria a sua população?
Não nos é possível sabe-lo.
Chimbila iria ser a nossa casa por largos, e penosos meses.
Não passava este (aquartelamento) de meia dúzia de quimbos, muitos deles com o chão cimentado outros forrado a garrafas de cerveja, enterradas com o fundo virado para cimas

A porcaria, era mais do que muita, por todo o lado se viam galinhas pequenas hortas – talvez para matar saudades – e até suínos. Esta malta, que vínhamos render, esteve aqui toda a sua comissão. Eram o que se chama na gíria militar uns " baldas".

As, estórias que nos contavam a ser verdadeiras, – e porque não – eram o sinal mais do que evidente de que esta guerra ia ser perdida. Os soldados já não tinham o moral elevado e o sentido de patriotismo, era qualquer coisa de difuso e vago.
Por se terem recusado ou disfarçado de fazerem as operações, por não terem feito nada para dar um pouco de dignidade ao local, foram castigados e estiveram toda a comissão nesta zona.
Quando partiram fizeram uma “farra” enorme, que foi bem regada de cerveja e vinho.
Vê-los partir lembrou-nos que era chegada a nossa vez.


Depois de nos instalar-mos, e de se ter organizado a vida neste rectângulo de terra batida, toda cercada por florestas – a cidade mais próxima a antiga Luso ficava a mais de cem quilómetros – foi preocupação do nosso então comandante de companhia capitão Azuil, proceder-se a limpeza e reorganização do espaço.
Foram montadas, camaratas pré-fabricadas, e foi dada uma cama, com colchão de espuma, lençóis e mantas. Um luxo para quem andou durante alguns meses a dormir, sempre e precárias condições.
Aqui em Chimbila havia água quase sempre, porque os velhinhos tinham montado uma bomba que muitas vezes recusava-se a trabalhar. Valia-nos que perto corria o Cassai mais afastado um pequeno ribeiro de águas límpidas e frescas. Era aqui que nos abastecíamos do líquido da vida e tomava-mos os nossos deliciosos banhos, sempre vigiados talvez à distância por elementos ditos de informação.

Havia também um alto depósito.
Não sofremos ataques nesta zona. Tinha sido celebrado um acordo com Jonas Sabimbe, que deveria isso sim combater o MPLA, mas isso são outras histórias que se contaram mais tarde.

Era assim esta guerra suja. 
O nosso capitão Azuil, sempre nos foi dizendo que não estávamos ali para acabar com a guerra mas, para cumprir o tempo da comissão.
Passou afazer parte da nossa actuação, a distribuição pelo natal e noutras ocasiões de comida roupa e outras ofertas à população do Biula, a que ficava mais próximo de nós.
No meio desta selva de sons, poder olhar a natureza, o azul intenso do céu em toda a sua plenitude era para nós algo de reconfortante para o espírito, o silêncio era apenas cortado pelo ronco do trabalhar dos motores dos carros e de um ou outro helicóptero, em missão.


As «cucas» eram a animação da malta e os Furriéis milicianos, faziam, jus ao espírito de estudante. Era cada camuéca  de se lhes tirar o chapéu. 

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