14/11/10

Idosa vive aterrorizada por filho que sofre de stress de guerra

Idosa vive aterrorizada por filho que sofre de stress de guerra

 

Maria da Conceição Fonte confessa que já não tem forças para assegurar a higiene do filho
É num barracão escuro que Maria da Conceição Fontes, 86 anos, se refugia sempre que as crises atingem o filho, ex-combatente do Ultramar, que sofre de stress de guerra.




Uma mulher de 86 anos que reside com os dois filhos – ex-combatentes do Ultramar -
vive aterrorizada com as crises do mais velho, que sofre de stress de guerra e por vezes é violento. Sempre que isto acontece Maria da Conceição Fonte tem necessidade de refugiar-se num barracão, fechada a cadeado, em Arneiro de Tremês, concelho de Santarém, onde residem.


“Quando lhe dá aquela fúria desgraçada tremo toda. No outro dia deu-lhe um grande ‘terramoto’. Tinha um tabuleiro com tomates e ele começou a cortar aquilo tão miudinho que até pensei que se calho estar ao pé talvez ele me fizesse aquilo a mim… Mas ele coitadinho nem sabe o que diz e o que faz”, desabafa.


O filho já chegou a ser fechado no mesmo barracão nas alturas em que é mais agressivo. O MIRANTE encontrou-o tapado com um cobertor num barracão escuro, anexo à casa de habitação. A mãe já não tem forças para garantir a devida higiene diária do filho.


José da Fonte Dourado, 62 anos, passou dois anos e meio em Moçambique e chegou a receber tratamento no Hospital Júlio de Matos, que entretanto foi interrompido. O irmão, que também vive na casa, esteve apenas um ano na guerra colonial em Angola.


O filho mais velho de Maria da Conceição Fonte chegou a trabalhar numa cerâmica, mas depois do regresso do Ultramar não voltou a empregar-se. “Foi para a guerra e veio de lá assim. O Zé apanhou lá muitos trambolhões. Ia numa furgonete quando um dia rebentou uma mina. Bateu com a cabeça”, chora a mãe.


A idosa tem uma reforma de cerca de 200 euros. O filho mais velho recebe cerca de 500 euros. É o mais novo que gere o orçamento familiar. O marido morreu há dez anos. Maria Conceição da Fonte completa 87 anos a 22 de Outubro. Vive com o dilema do filho há mais de três décadas. “Queria ir para um lar com ele. Se eu fosse sozinha, preocupada sem saber o que se passa, ainda ficava pior da minha cabeça”.


Maria da Conceição Fonte trabalhou uma vida inteira no campo com o marido, que faleceu há 10 anos. Teve dois filhos que criou sozinha. Orgulha-se de não ter ficado a dever favores a ninguém. “Criei-os com a ajuda de um burrica e ia para o campo cavar. Andaram na escola e aprenderam a ler. Eram santos os meus filhos. Tenho muitas testemunhas disso”.


A família reside na Rua Dr. Jacob Pinto Correia, em Arneiro de Tremês, freguesia de Tremês, concelho de Santarém.
O MIRANTE contactou a presidente da Junta de Freguesia de Tremês, Maria Emília Santos, que só depois do contacto do jornal tomou conhecimento da situação, mas manifestou de imediato vontade de ajudar a resolver o caso com a ajuda da Segurança Social. O nosso jornal contactou igualmente o Centro Distrital de Segurança Social de Santarém e a GNR, mas não foi possível obter uma resposta até ao fecho de edição.
A ACUP - Associação Combatentes do Ultramar Português não tem conhecimento do caso em concreto.
O mesmo acontece com a Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra. O actual presidente, psicólogo de formação, Augusto Freitas, lembra que este é apenas um dos milhares de casos espalhados por todo o país que precisam de ajuda. Aconselhou a família a recorrer ao médico de família a fim de iniciar um processo de pedido de encaminhamento que é moroso ou a contactar uma associação mais próxima de Lisboa, caso da Apoiar ou da Associação dos Deficientes das Forças Armadas.


Picado com a devida vénia do O MIRANTE – Semanário Regional


Se será preciso mais comentários? Como é possível que esta mãe viva nesta angustia.
Como é possível, ninguém mais saber?


Eis mais um pouco do muito que anda encoberto neste país sobre como vivem muitos ex-combatentes que só recebem dos seu governantes palavras e mais palavras, mas que não cumprem com o que ficou prometido depois do 25 de Abril.

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